Este ano, a Semana da Leitura teve início um
pouco mais cedo. No dia 10 de março recebemos, pela 4ª vez, o escritor-amigo,
Pedro Guilherme Moreira. São os nossos Elos de Amizade que nos trazem, todos os
anos, o autor das obras "A manhã do mundo e "Livro sem ninguém".
Este ano, a responsabilidade da apresentação do escritor foi da
responsabilidade da Inês Guerra, da Inês Forte e do André, do 10ºLH4, que muito
bem estabeleceram a relação do livro "A manhã do mundo" com o
fatídico 11 de setembro. Foram Elos de Leitura, de Amizade, mas também de
Solidariedade com todos aqueles que, todos os dias, são vítimas de atitudes incompreensíveis.
Não deixem de consultar o blogue "Ignorância" e ler o texto do
escritor sobre este encontro.
http://ignorancia.blogspot.pt/2016/03/xico-2106-ano-4.htm
Deixo-vos com a transcrição do texto constante no blogue, que não devem deixar de consultar.
Xico 2016, Ano 4
Xico 2016, Ano 4
Senti-te a falta, Maria. Bé para os colegas. A Maria
foi a alma dos meus anos todos, e não consigo partir para mais um relato da
substância sem me penitenciar. Não me importei como reclamo para mim e para os
outros, falhei, na voragem dos dias intensos, um olhar mais dedicado à minha
amiga Maria, uma grande professora de português e uma grande mãe. As
professoras Rosário e Manela dão o litro, mas a Maria sempre foi a minha alma
na Xico. Por isso te senti a falta, mas este, deixa-me que te diga, Maria, foi
dos nossos melhores anos. Na Xico 2017 - ano 5, quero-te a ti à Clara, por
favor. Neste novo formato, em que vou acompanhado de delegados da editora,
graças a um departamento, o dos "Encontros de Autor", que está a
funcionar afinadinho, é mais fácil gerir a ressaca de afectos. Não ir sozinho e
não vir sozinho permite uma percepção mais clara das falhas e dos acertos. A
Liliana foi a delegada para a Xico. Um tripeiro reconhece outro tripeiro, e a
Liliana podia estar calada o tempo todo e eu saberia que ela era uma tripeira.
Mas a Liliana é muito mais do que isso. Boa ouvinte, atenta, com um juízo
crítico lúcido, profundamente bonita do que na beleza não é visível - mas
também do que é -, uma verdadeira companheira de aventura. E as escolas são
verdadeiras aventuras. Este ano a professora Rosário estava doentinha e a
Manela-bibliotecária tem só dois braços, pelo que a coisa correu mais entre mim
e os alunos, mais precisamente as Ineses com nomes bélicos, Guerra e Forte, e a
Jéssica com nome de guerreira, Valente, no antes, e, entre muitos que ficaram
mais escondidos na sombra ou na luz dos próprios sorrisos (eu vi-vos, acreditem
que vos vi, mas não tenho o direito de vos expor; os vossos olhos eram tão
vorazes quanto doces, olhavam para mim como se olha para os actores no teatro,
com alimento, e eu agradeço-vos isso), a Rita Antunes, o Miguel, o André, a
Fabiana, a Francine, a Carolina (sim, tu, que estavas mesmo em frente a mim) e
a Ana Luísa.
Depois, no caderno, a assinar dedicatórias que até
comoveriam um menir, e assinando quase em coro com o tag #somosTodosPedro (os
tags, todos juntos, ali, no caderno, eram poderosos e comoveram-me a sério),
Rita Ribeiro ("a tua poesia vale mil sorrisos"), a Glória Fernandes
("ainda há escritores que têm o dom de fazer as palavras valer"),
Filipa-Carolina-Ana-Sara-Maria (a visão colectiva da literatura), todo o 11º
LH1 (o futuro nas nossas mãos), Márcia-Jéssica-Mónica ("provocas-nos um
sorriso verdadeiro e lágrimas de felicidade"), todo o 10º LH4 ("muito
obrigado por este grandioso momento"), o arrepio e a comoção da Lara
Rodrigues (eu não vos disse que a literatura não era chata?) - que passou a ver
a literatura como poderosa, Cátia-Teresa-Vera ("a tua presença é mesmo
"awsome" - tão fixe, isto!), Ângela e Bianca (repetentes em
sessões, acham que valeu cada minuto), o longo (adoro quando escrevem muito,
como eu) e bonito texto da Inês Martins ("sempre achei que a literatura
era apenas algo que aprendíamos na escola e que durava tanto quantos os anos em
que estudamos; (...) aprendi esse significado com o Pedro. Literatura é arte, é
vida, é alma, é tudo. (...)"), a aluna que mais se emocionou durante toda
a sessão e que, por isso, teve direito ao original, a Rita Antunes (não vou
sequer transcrever as tuas palavras; eu estive atento; a tua emoção não foi
banal, foi gratificante; é isso que procuro com a literatura, Rita. Se não há
emoção, eu declaro derrota), a/o anónima/o que reflectiu sobre os filtros e as
abertura do peito e da alma e que riscou o nome e deixou só 10LH4, a Débora,
que me viu à transparência ("um homem grande com um coração grande; (...)
continua a partilhar, muda vidas, uma palavra basta"), a Bárbara Inês
("obrigada pelas palavras, Pedro, obrigada por seres tão genuíno, tão
real. E, acima de tudo, obrigada por te preocupares"), e as Ineses, que
falam de que o dia as mudou - só pode ser a minha ambição máxima: que seja o
dia e a vida. Respondo ao André, que escreveu "Porque é que divides o
mundo em gerações? Somos todos seres humanos." - Eu sou o primeiro a
dizer para todos me tratarem por tu e a ter amor por gente boa, tenha 10, 15 ou
80 anos, André. A boca da geração é para vos abanar. Ou melhor: para abanar os
que estão mais adormecidos. Só isso. Se reparares, André, eu acosso-vos e
mimo-vos a todo o tempo. Puxo e empurro. Abano.
Tive oportunidade de publicar esta foto logo a seguir
à sessão. Uma referência breve à declaração de amor "És o Deus da
literatura", anónima e sob o tag #PedroDeus: não tenho de explicar que me
sinto pequenino perante uma frase divinizadora, que não é, obviamente, literal,
mas uma espécie de abraço de sangue - a menina ou o menino que escreveram isto
querem, apenas, dizer que entenderam nas suas profundezas o que aqui fui dizer
e que, como a Liliana caracterizou, e bem, é uma espécie de missão. Nós
queremos muitas vezes dizer isto aos nossos ídolos, não porque eles sejam os
nossos verdadeiros deuses, mas porque nos flagraram a essência, porque nos
vieram dizer ao espaço pequeno e quase insondável (e certamente inefável) que
fica, mais do que dentro, por trás do coração e em lugar nenhum do mundo, mas
em todos os lugares das pessoas (dentro ou fora do mundo, do passado ao futuro,
do tempo todo) o que nós não conseguimos formar entre a língua, os dentes,
a garganta e o nariz, que é o lugar físico das palavras. Porque não há.
Não há palavras para a nossa centralina. E então divinizamos. Quase por raiva,
divinizamos. Eles, estes meninos e meninas maravilhosos, também são deuses para
mim. A Cláudia Baptista perguntou-me de viva voz, no fim da sessão, se eu tenho
na vida o drama que trato ficcionalmente. A minha resposta inteira foi longa.
Mas comecei por lhe dizer que "sim, tenho perdido pessoas, mas há muitos
mais novos do que eu que perderam mais". Mas a pergunta é tremenda.
Demorou-lhe aquele tempo habitual para levantar a mão, mas a pergunta é
tremenda, Cláudia. No fim, é sempre a mesma coisa: a ressaca de afectos. Mesmo
com a Liliana a ajudar. Começo a medir as sessões pelos que ficam depois, vida
fora, e vejo crescer. Alguns ficam meus amigos, amigos a valer. Faz este ano
cinco anos que estou visível, publicamente, na literatura. A Xico teve a sua 4ª
sessão em 104 visitas a escolas. Castelo de Paiva segue-se como a 105. Ovar
como a 106, tudo numa semana, como é habitual antes das férias da Páscoa. Os
que estiveram nas primeiras sessões estão agora a licenciar-se e, creiam-me, é
maravilhoso acompanhar os que ficam por perto. Como eu dizia há uns anos, na
Xico, custa-me ter de os deixar. Custa-me muito. Sempre. Mas é sempre uma
experiência transcendente. Eu acho que é amor. Apenas isso. O tal sentimento
que é sobre-humano.
PG-M 2016
Fotos propriedade da Escola Francisco de Holanda,
Guimarães, Portugal
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