“ONTEM e HOJE: palavras que aproximam”
Foi assim intitulada a conversa que decorreu no dia 18 de março, no âmbito das atividades da Semana Aberta, com a chancela da nossa Biblioteca e orientada pelo Professor João Salgado de Almeida, no museu da escola. Nenhum outro lugar poderia acolher de forma mais harmoniosa os assuntos aí abordados, não só pela ligação óbvia do passado ao presente que o espaço consente, como também porque proporcionou um discurso despretensioso e intimista com os alunos presentes.
A sessão começou por abrir as portas ao aluno Rui Freitas (11ºCSE2), para que este partilhasse com os colegas o texto que elaborou para a disciplina de Português e que traduz na perfeição o título atribuído à atividade. Assim, o Rui leu com convicção um texto denominado Sermão de um professor cansado à bicharada do recreio que, como se pode facilmente deduzir, constitui um pastiche, uma espécie de colagem, do famoso e brilhante texto de Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos peixes)”, decalcando a sua estrutura, mas abordando, desta vez, não o universo colonialista que se vivia no Brasil no século XVII, mas o ambiente escolar do século XXI (ainda que restringindo-o ao espaço da nossa escola), procurando manter o mesmo espírito crítico e pedagógico. Estavam assim as palavras de ONTEM transformadas em palavras de HOJE, numa aproximação que confirma a intemporalidade e as potencialidades dos textos de exceção.
Terminado o preâmbulo, tomou então a palavra o Professor Salgado de Almeida que nos veio falar de Fanzines, especificamente daquelas que tratam da poesia, explicando-nos que esta nomenclatura terá surgido a partir das abreviações das duas palavras da língua inglesa – fan e magazine (revista) – e que pretende traduzir um conceito definido pelas condições de produção iniciais desde tipo de publicação, ou seja, periódicos artesanais, confecionados manualmente, de forma independente, sem intenção de lucro, ou seja, apenas pelo prazer ler e de escrever e de partilhar com o outro essas palavras peculiares e brilhantes que formam e conformam a poesia. As fanzines surgem, portanto, como alternativa a um mercado vinculado às grandes tiragens e como imagem de resistência a uma produção literária assente na alienação, que vai diretamente ao encontro dos gostos ou da compreensão das massas, excluindo assim, naturalmente, a publicação de poemas do gosto de uma pequena minoria, abstendo-se esse mercado de qualquer missão de caráter educativo.
Para terminar no mesmo tom, um aluno fez um improviso poético marcado pelo humor e pela boa disposição. E assim "se brincou seriamente com a poesia", pois é este um dos processos que se pode utilizar para começar a cultivar o gosto pelas palavras, como muito bem sabe o nosso poeta Salgado de Almeida.
Partilhamos, aqui, a versão reduzida do Sermão de um professor cansado à bicharada do recreio, do Rui Freitas.
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