“Poisson d’avril”
1 de Abril
Um mergulho
pela história…
Antes de 1564 o primeiro dia do ano correspondia ao dia um de Abril
e não ao dia um de Janeiro como acontece atualmente.
É a 9 de Agosto de 1564 que, em França, se assina o Édito de
Roussillon…
Até então, para o Parlamento de Grenoble, o ano começava no Natal
e, para a Igreja de Vienne (Rhônes-Alpes), na Incarnação, a 25 de Março. Na
sala do castelo de Roussillon, conhecida, hoje, como “sala do édito” foi
assinado, entre outros, o artigo seguinte respeitante ao início do ano civil:
"Art. XXXIV :
Voulons et ordonnons qu'en tous actes, registres, instruments, contracts,
ordonnances, édicts, lettres tant pattentes que missives et toute écriture
privée, l'année commence doresnavant et soit comptée du premier jour de ce mois
de janvier " (« art. XXXIV :
Queremos e ordenamos que em todos os actos, registos, instrumentos, contratos,
decretos, éditos, cartas quer pattentes quer missivas e
toda a escrita privada, o ano comece doravante e seja contado do primeiro dia
deste mês de Janeiro”)
Este édito e uma parte dos outros tinham sido redigidos em Paris,
em Janeiro, mas só foram publicados em Roussillon, a nove de Agosto do ano da
graça de 1564.
Quem reinava em França, nessa altura?
Era inconstante, vacilando entre a influência da mãe e a de Gaspard
de Coligny (um dos chefes das reformas aquando as primeiras guerras
religiosas).
Morre antes de completar 24 anos, a 30 de Maio de 1574
sucedendo-lhe o seu irmão, o duque de Anjou, futuro rei Henri III, rei da
Polónia.
Como
é que esta decisão influencia o mundo?
E como se
associam estas mudanças ao “poisson d’avril ?” ou “dia das mentiras?”
A verdade é que nem todas as regiões francesas aceitaram
passivamente a mudança do calendário e a 1 de Abril de 1565 enviaram os seus
“presentes”. Com a passagem dos anos esses pequenos presentes transformaram-se
em partidas.
Mas…o que motiva a escolha
do peixe?
Não há aqui respostas únicas. Uma das hipóteses considera que esta
escolha está associada à interdição de pescar já que em Abril é a altura em que
os peixes se reproduzem. Houve, então, algumas pessoas mal-intencionadas que
teriam tido a ideia de pregar partidas aos pescadores, lançando arenques
(peixes de água salgada) nos rios (água doce) e gritar: POISSON D’AVRIL!!!!!
Outras pessoas terão associado esta tradição ao facto de, no início do mês de
Abril a lua sair do signo do Zodíaco de Peixes. Há, ainda, os que a associam ao
período da Quaresma em que a carne é substituída pelo peixe.
Atualmente, em França, as crianças fazem os seus peixes de
várias cores e colam-nos nas costas dos seus amigos.
No século XV um “poisson d’avril” era o nome dado ao jovem que
tinha a seu cargo servir de mensageiro entre os apaixonados. No dia um de
Abril, estes enviavam postais com mensagens de amor. Estas paixões eram,
geralmente secretas, porque proibidas. Como o peixe não fala, enviar uma carta
anónima com um peixe era uma forma declarar o seu amor. Esta tradição
perdeu-se, mas a sua beleza permanece neste postal de 1908:
Um pormenor interessante relativamente a este postal é que ele foi
enviado de Guimarães para Grenoble, certamente de um apaixonado saudoso…
Na Inglaterra, a este dia dá-se o nome de “April’s fool” e a
sua tradição remonta ao século XVII. Todos os anos se inventam falsas notícias,
que os jornais publicam para desmentir no dia seguinte… As superstições dizem
que não se podem pregar partidas a partir da meia-noite do dia 1 de Abril, sob
o risco de atrair o azar. O mesmo acontecerá àqueles que não responderem com
bom humor às partidas.
Na Escócia assiste-se, durante dois dias, ao “hunt-the-gowk”
(gowk é um pássaro, o cuco) Neste caso, a tradição consistia em enviar uma mensagem,
através do “parvo” da aldeia ao primeiro que este encontrasse. O que a recebia
enviava-a a outro e assim sucessivamente, até que o próprio mensageiro se
cansasse e a abrisse. A carta dizia “Caça o cuco, em mais um milheiro”. Quando
regressava à aldeia, cansado de tanto ter andado em vão, os farsantes, que lhe
tinham preparado a partida chamavam-lhe “April gowk”, cuco de Abril (é
interessante recordar que o cuco tem a particularidade de roubar os ninhos dos
outros pássaros). Já no dia dois de Abril, chamado “Taily Day”, os escoceses
procuram dar um pequeno presente à pessoa escolhida para pregar a partida,
colando-lhe um pequeno cartaz nas costas onde se pode ler “Dá-me um pontapé”.
Na Bélgica a tradição permanece bem viva e crianças e
adultos procuram colar os peixes nas costas dos amigos.
Na Alemanha diz-se “April April” ou “Aprilscherz” quando se
prega a partida ou depois de ter enganado a sua vítima. A tradição remonta ao
século XVII.
Em Portugal, no dia 1 de Abril pregam-se partidas e atira-se
farinha ao amigos.
Em Espanha a tradição conhece duas versões, sem dúvida,
curiosas… Assim, no dia 1 de Abril comemora-se o dia “de los engaños”, porém a
data que obteve maior empatia de todos é o 28 de Dezembro, com a celebração do
dia “de los inocentes” ou, como lhe chama a Bíblia, o dia “de los santos
inocentes”. Esta última data está ligada a um acontecimento bíblico: Herodes
mandara matar todas as crianças, após a notícia do nascimento do Salvador (Jesus
Cristo). Apesar de ser uma data sangrenta, e sem haver uma explicação clara,
este dia tornou-se festivo, perdendo a ligação à passagem bíblica. Hoje,
associa-se a esta data a ideia de “perdão”, isto é, as partidas são toleradas e
não se pode crer cegamente no que é dito… tornou-se usual uma ou outra mentira
”inocente”. Nesse dia, fazem-se recortes de cartão com o formato de crianças e
pregam-se nas costas dos mais desprevenidos (tal como em França com os peixes).
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