sexta-feira, 1 de abril de 2016

Poisson d’avril

Poisson d’avril
1 de Abril 
Um mergulho pela história…
Antes de 1564 o primeiro dia do ano correspondia ao dia um de Abril e não ao dia um de Janeiro como acontece atualmente.
É a 9 de Agosto de 1564 que, em França, se assina o Édito de Roussillon…
Até então, para o Parlamento de Grenoble, o ano começava no Natal e, para a Igreja de Vienne (Rhônes-Alpes), na Incarnação, a 25 de Março. Na sala do castelo de Roussillon, conhecida, hoje, como “sala do édito” foi assinado, entre outros, o artigo seguinte respeitante ao início do ano civil:
"Art. XXXIV : Voulons et ordonnons qu'en tous actes, registres, instruments, contracts, ordonnances, édicts, lettres tant pattentes que missives et toute écriture privée, l'année commence doresnavant et soit comptée du premier jour de ce mois de janvier " (« art. XXXIV : Queremos e ordenamos que em todos os actos, registos, instrumentos, contratos, decretos, éditos, cartas quer pattentes quer missivas e toda a escrita privada, o ano comece doravante e seja contado do primeiro dia deste mês de Janeiro”)
Este édito e uma parte dos outros tinham sido redigidos em Paris, em Janeiro, mas só foram publicados em Roussillon, a nove de Agosto do ano da graça de 1564.



Quem reinava em França, nessa altura?

O rei de França chamava-se Charles IX, segundo filho de Henri II e de Catherine de Médicis. Sucedeu na governação a seu irmão François II, quando tinha apenas dez anos. Carlos IX era, tal como os irmãos, uma criança frágil, quer física quer psicologicamente. A sua mãe ficará com regente, nomeando Antoine de Bourbon tenente geral do reino. Deste modo, católicos e protestantes encontram-se frente a frente, dando lugar às guerras religiosas, sendo a mais violenta a que ocorre em 1572, na altura de S. Bartolomeu, em que se assiste ao massacre dos chefes protestantes.
Era inconstante, vacilando entre a influência da mãe e a de Gaspard de Coligny (um dos chefes das reformas aquando as primeiras guerras religiosas).
Morre antes de completar 24 anos, a 30 de Maio de 1574 sucedendo-lhe o seu irmão, o duque de Anjou, futuro rei Henri III, rei da Polónia.


Como é que esta decisão influencia o mundo?
É com o Papa Gregório XIII e a sua reforma do calendário juliano, que a lei decretada por Charles IX se espalhará pelo mundo… Estamos perante o chamado calendário gregoriano, pelo qual nos regemos ainda hoje. Este entra em vigor a 15 de Outubro de 1582 (como facilmente se deduz, neste calendário cada ano tem início a 1 de Janeiro…).
        E como se associam estas mudanças ao “poisson d’avril ?” ou “dia das mentiras?”

A verdade é que nem todas as regiões francesas aceitaram passivamente a mudança do calendário e a 1 de Abril de 1565 enviaram os seus “presentes”. Com a passagem dos anos esses pequenos presentes transformaram-se em partidas.


Mas…o que motiva a escolha do peixe?
Não há aqui respostas únicas. Uma das hipóteses considera que esta escolha está associada à interdição de pescar já que em Abril é a altura em que os peixes se reproduzem. Houve, então, algumas pessoas mal-intencionadas que teriam tido a ideia de pregar partidas aos pescadores, lançando arenques (peixes de água salgada) nos rios (água doce) e gritar: POISSON D’AVRIL!!!!! Outras pessoas terão associado esta tradição ao facto de, no início do mês de Abril a lua sair do signo do Zodíaco de Peixes. Há, ainda, os que a associam ao período da Quaresma em que a carne é substituída pelo peixe.
As hipóteses são, então, muitas, as certezas…nenhumas. Isto não é, porém, impeditivo da diversão que permanece, até hoje, e que não são mais do que motivo para conviver.
Atualmente, em França, as crianças fazem os seus peixes de várias cores e colam-nos nas costas dos seus amigos.
No século XV um “poisson d’avril” era o nome dado ao jovem que tinha a seu cargo servir de mensageiro entre os apaixonados. No dia um de Abril, estes enviavam postais com mensagens de amor. Estas paixões eram, geralmente secretas, porque proibidas. Como o peixe não fala, enviar uma carta anónima com um peixe era uma forma  declarar o seu amor. Esta tradição perdeu-se, mas a sua beleza permanece neste postal de 1908: 

Um pormenor interessante relativamente a este postal é que ele foi enviado de Guimarães para Grenoble, certamente de um apaixonado saudoso…

Na Inglaterra, a este dia dá-se o nome de “April’s fool” e a sua tradição remonta ao século XVII. Todos os anos se inventam falsas notícias, que os jornais publicam para desmentir no dia seguinte… As superstições dizem que não se podem pregar partidas a partir da meia-noite do dia 1 de Abril, sob o risco de atrair o azar. O mesmo acontecerá àqueles que não responderem com bom humor às partidas.

Na Escócia assiste-se, durante dois dias, ao “hunt-the-gowk” (gowk é um pássaro, o cuco) Neste caso, a tradição consistia em enviar uma mensagem, através do “parvo” da aldeia ao primeiro que este encontrasse. O que a recebia enviava-a a outro e assim sucessivamente, até que o próprio mensageiro se cansasse e a abrisse. A carta dizia “Caça o cuco, em mais um milheiro”. Quando regressava à aldeia, cansado de tanto ter andado em vão, os farsantes, que lhe tinham preparado a partida chamavam-lhe “April gowk”, cuco de Abril (é interessante recordar que o cuco tem a particularidade de roubar os ninhos dos outros pássaros). Já no dia dois de Abril, chamado “Taily Day”, os escoceses procuram dar um pequeno presente à pessoa escolhida para pregar a partida, colando-lhe um pequeno cartaz nas costas onde se pode ler “Dá-me um pontapé”.

Na Bélgica a tradição permanece bem viva e crianças e adultos procuram colar os peixes nas costas dos amigos.

Na Alemanha diz-se “April April” ou “Aprilscherz” quando se prega a partida ou depois de ter enganado a sua vítima. A tradição remonta ao século XVII.

Em Portugal, no dia 1 de Abril pregam-se partidas e atira-se farinha ao amigos.

Em Espanha a tradição conhece duas versões, sem dúvida, curiosas… Assim, no dia 1 de Abril comemora-se o dia “de los engaños”, porém a data que obteve maior empatia de todos é o 28 de Dezembro, com a celebração do dia “de los inocentes” ou, como lhe chama a Bíblia, o dia “de los santos inocentes”. Esta última data está ligada a um acontecimento bíblico: Herodes mandara matar todas as crianças, após a notícia do nascimento do Salvador (Jesus Cristo). Apesar de ser uma data sangrenta, e sem haver uma explicação clara, este dia tornou-se festivo, perdendo a ligação à passagem bíblica. Hoje, associa-se a esta data a ideia de “perdão”, isto é, as partidas são toleradas e não se pode crer cegamente no que é dito… tornou-se usual uma ou outra mentira ”inocente”. Nesse dia, fazem-se recortes de cartão com o formato de crianças e pregam-se nas costas dos mais desprevenidos (tal como em França com os peixes).  



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