Apresentação de Rui Sousa Basto
Rosário Ferreira
•“Nasci em 61 do século passado, quando rebentou a guerra em Angola, embora isso nada tenha a ver comigo, nem a guerra nem Angola. Foi uma coincidência de que me apercebi muito mais tarde, (…)
•Na puberdade lia Sartre, Boris Vian, Pessoa, Almada, Eça, Cesário Verde, Hemingway, Garcia Marquez, Huxley, Thomas Mann, Kerouac, Orwell, Kafka, Camus, Neruda, Hermann Hess ….
•Ouvia muita música, principalmente jazz e sucedâneos, mas também o rock sinfónico de Gentle Giant, King Crimson, Genesis e de outros facínoras da mesma laia, além de Bossa Nova e das canções de intervenção política do Sérgio, Zeca e do resto da malta. Também me deliciava com Beethoven, Mozart, Bach e demais compositores do necrotério da música erudita.
•Sou português de gema, clara e casca,
•Formei-me em Engenharia Química, depois em Engenharia e Gestão Industrial e, mais tarde, tirei uma Pós-graduação em Gestão de Empresas, tornando-me num autêntico especialista em generalidades.
•Gosto do mar, do rio e da fluidez da água nas suas variadas manifestações e nos seus diversos movimentos.
•Interesso-me por ciência em geral, mas nutro um carinho especial pela física e, por isso, sou um fã [de] Galileu, Newton, Einstein, Maxwell, Eisenberg, Planck e tantos outros.
•Desde menino que me dizem que tenho jeito para escrever e, de facto, para meu espanto, uma parte dos meus rendimentos profissionais resultam de teclar textos para isto e aquilo, mais aquilo e aqueloutro.
•Há cerca de um ano atrevi-me na literatura com aspas, aspas e mais aspas, e acabei por escrever alguns desvarios que vou guardando na gaveta dos vómitos, mas sempre com a esperança secreta de que esses escritos tenham algum valor literário, seja lá o que isso for
•Falta dizer, talvez, que sou adepto do Futebol Clube do Porto e que perdoo todas as atitudes do Pinto da Costa como quem perdoa as travessuras de um filho. Ámen.”
Porém, a frase que mais de encantou foi a sua definição de identidade, e ela aqui vai: “A definição da identidade depende dos atributos que escolhemos para a qualificar.” Mais: “a identidade é aquilo que nós somos e a imagem é a maneira como os outros nos vêem.”
Portanto, vou falar sobre a imagem que tenho do Rui, sobre como eu o “vi” depois de “entrar” nos Contos do Efémero.
Li alguns dos contos do efémero e apeteceu-me falar deles: do título, dos títulos.
Não os li todos. Acho que este é um daqueles livros que se deve ir lendo. Se lermos tudo de seguida acaba demasiadamente depressa, é como quando trincamos o chocolate, e o chocolate não é para ser trincado, é para ir derretendo entre a língua e o palato, para que o seu pleno sabor possa ser absorvido totalmente por todas as nossas papilas gustativas. Por isso, decidi, ao fim meia dúzia de contos, que escolhi ao acaso – apenas deixando ao destino a seleção das folhas por onde ir abrindo a obra – decidi, dizia eu, que não iria lê-los todos, que alguns, que divagaria à volta dos seus títulos e que, depois, aos poucos, iria confrontar o que eu pensava que os contos me iriam dizer com o que os contos me disseram.
Fui ao índice: (prometo que só vou falar de alguns)
Sete vidas – gatos; o gato Pantufa que havia em minha casa muitos anos antes de eu nascer, mas que ficou para sempre na memória da família por ter morrido quando os pasteleiros acenderam o forno a lenha e não viram que o bichano dormia a sesta na estufa!!! (já tinha gasto as outras seis)
Duelo – Aqui a minha alma de eterna romântica viajou de imediato até ao século XVIII, aos duelos de honra, às donzelas de honra resgatada… Lembrei-me de Veneza! De Casanova, não sei porquê, mas quando lá estive imaginei-o em duelos acirrados equilibrado na pequena proa de uma gôndola enquanto a embarcação andava à deriva pelos estreitos canais (ainda não li!)
Bibliofilia – filha dos livros? Não sei, acho que sou. Mas também dos filmes que vi, das músicas que ouvi, dos debates que escutei. Fui lê-lo! Adorei, embora me tivesse lembrado os anos 80, em que os novos-ricos compravam “livros falsos” para encherem as prateleiras das bibliotecas.
Génesis – não sei se vou pela bela metáfora da criação, se prefiro pensar em Phil Collins! É que quando “Deus viu que tudo era bom”, ainda não havia políticos, nem políticos, nem políticos (será que Deus também se arrepende?)
Words, Words, Words - Words, don’t como easy to me… vá lá saber-se porque diabo me lembrei desta música de F.R: David, meu Deus!!! Se calhar foi porque nos meus loucos anos 80 a ouvi até o disco ficar riscado (com os mp4 isso não acontece!)
O Sábio – O Sabichão!! Era um jogo muito engraçado que eu jogava com os meus irmãos. Juro que ainda não percebi como é que o boneco sabia tudo!!! (este tenho que ler)
Um Casamento Feliz – cheirou-me a novela da TVI, ou então a Nicolas Spark. Não gosto nem de um nem de outro. E no entanto li o conto: fabulástico!!!
Desafinação – ainda embalada pelos últimos acordes da FOE e pelas últimas “batutadas” de Rui Massena, não resisti a ler este conto. Mas quando reli o título, não foi da CEC 2012 que me lembrei, mas de uma voz que há mais de 40 anos me atirou, num ensaio do grupo coral das crianças da paróquia com a terrível sentença: “a menina desafinou, vai para a fila de trás!” Escusado será dizer que nunca mais fui para o grupo das crianças (tem piada, mas depois cantei no dos adultos! Enfim!) Eu acho é que se o sr. Afonso tentasse ensaiar os deputados não haveria “filas de trás” que chegasse!
O editor – tinha que ler o último! Confesso que o título não era dos que mais me atraía mas, enfim! Li-o, e lembrei-me logo de uma aula que dei no início deste ano letivo. Pedi aos meus alunos que lessem, em silêncio um texto, para depois o trabalharmos. De imediato ouvi uma voz (juro que já não sei quem foi) “Ó stora, isto tudo?!” convém esclarecer que o texto tinha a escandalosa extensão de uma página e meia (contando com a ilustração).
Rui, permita-me escolher só um atributo para qualificar a sua identidade, aquela que encontrei nos seus textos: surpreendente! É impressionante a viagem na memória dos tempos que este livro, tão efémero, conseguiu eternizar.