MÁRIO VARGAS LLOSA
VIDA
Jorge Mário Pedro Vargas Llosa nasceu em Arequipa (Peru), em 1936. Nascido numa família da classe média, único filho de Ernesto Vargas Maldonado e Dora Llosa Ureta, os seus pais separaram-se após cinco meses de casamento. Vargas Llosa nasce, então, estando já os seus pais separados, o que faz com que conheça o seu pai aos dez anos de idade. A sua primeira infância é passada em Cochabamba, na Bolívia, onde estuda até ao 4º ano, no colégio La Salle. Em 1945, a sua família volta ao Peru e instala-se na cidade de Piura, onde frequenta o 5º ano no colégio Salesiano. Em 1946, muda-se para Lima, onde termina a instrução primária e inicia a formação secundária no Colégio La Salle. É nessa altura que conhece o seu pai. Os pais reconciliam-se e, durante a sua adolescência, a família continuará a viver ali.
Ao completar 14 anos, ingressa, por vontade paterna, no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla, como aluno interno, ali permanecendo dois anos. Essa experiência será o tema do seu primeiro livro - La ciudad y los perros (A cidade e os Cães), publicado no Brasil como Batismo de Fogo e, posteriormente, como A cidade e os cachorros.
Termina os estudos secundários no Colégio de San Miguel de Piura.
Em 1953, regressa a Lima. Ingressa na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, a mais antiga da América. Ali estuda Letras e Direito, contra a vontade de seu pai.
Aos 19 anos, casa-se com Júlia Urquidi, irmã da mulher de seu tio materno, e passa a ter vários empregos para sobreviver: é redactor, elabora fichas, resumo de livros e chega, até, a confirmar os nomes inscritos em túmulos, nos cemitérios.
Em 1958, recebe uma bolsa de estudos "Javier Prado" e vai para Espanha, onde obtém o doutoramento em Filosofia e Letras, na Universidade Complutense de Madrid. Seguidamente, vai para França, onde vive durante alguns anos. Em 1964, divorcia-se de Júlia e, em 1965, casa-se com a prima Patrícia Llosa, com quem tem três filhos: Álvaro, Gonzalo e Morgana.
Em 1980, começa a ter maior actividade política no seu país. Em 1983, a pedido do próprio presidente Fernando Belaunde Terry, preside à comissão que investiga a morte de oito jornalistas. Em 1987, inicia o movimento político liberal contra a estatização da Economia, o que ia de encontro ao presidente Alan García. Em 1990, concorre à presidência do país com a Frente Demócrata (Fredemo), partido de centro-direita, mas perde a eleição para Alberto Fujimori.
E retorna a Londres, onde reinicia as suas actividades literárias. Em 2006, na sua mais recente visita ao país, apoia a candidatura de Lourdes Flores, embora o vencedor das eleições tenha sido Alan García. As suas experiências como escritor e candidato presidencial estão expostas na autobiografia Peixe na Água, publicada em 1991.
É membro da Academia Peruana de Línguas, desde 1977, e da Real Academia Española, desde 1994. Tem vários doutoramentos Honoris Causa atribuídos por Universidades espalhadas um pouco por todo o mundo: Europa, América e Ásia.
Foi condecorado pelo governo francês com a Medalha de Honra, em 1985.
Ao longo da sua carreira, Vargas Llosa recebeu vários prémios e condecorações. Entre eles, destacam-se: o Prémio Nacional de Novela do Peru, em 1967, pelo seu romance A Casa Verde; o Prémio Príncipe das Astúrias de Letras, em Espanha (1986); o prémio Cervantes, em 1994.
Finalmente, recebe a distinção máxima a que pode aspirar um escritor, com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em, 2010.
OBRA
O escritor peruano, Mario Vargas Llosa, foi laureado com o Nobel de Literatura, em parte, por “oferecer uma cartografia de estruturas de poder e pelas suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual”, segundo o Comité responsável pela atribuição do prémio.
Vargas Llosa, em tempos, afirmou que “é o dever moral de um escritor latino-americano estar envolvido em actividades cívicas”. Palavras que ele tem levado a sério.
Em seis décadas de vida pública, Vargas Llosa foi candidato à Presidência peruana, colunista político, Director da P.E.N. Internacional, jornalista interventivo e até defensor neo-liberal do mercado livre. Mas ele é, sobretudo, um escritor e ensaísta prolífico, com uma obra excepcional.
A sua obra critica a hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje no Peru e na América Latina.
Nos últimos quarenta anos, Vargas Llosa tem tecido mitos alternativos que têm sido impostos aos latino-americanos, por quem os governa. O seu principal tema é a luta pela liberdade individual na realidade opressiva do Peru. A sua primeira grande obra Conversa na Catedral, desenrola-se nos anos cinquenta, durante a ditadura do general peruano Manuel Odria e é um retrato feroz do modo como o regime militar distorce, mas não consegue obscurecer completamente a realidade.
Perguntas directas sobre o poder surgem em todos os seus livros. Mas o que torna Llosa significativo, não é este aspecto ou as suas constantes mudanças em ideologia política (já foi apoiante de Castro, mais tarde, comunista desiludido e até candidato do centro-esquerda), mas antes o modo como, na sua busca incessante, tem deambulado pela história e pelos géneros literários. Muitos dos seus escritos são autobiográficos e caracterizam-se por uma sofisticada técnica narrativa.
Os seus primeiros romances, com temática mais séria, deram lugar a sátiras e paródias e, mais tarde, a obras mais complexas, como Tia Júlia e o Escrevedor, nas quais o desejo pode provocar a confusão cómica na vida das personagens.
Na obra de Vargas Llosa, estes dois mundos – política e sexo – misturam-se, retratando a tendência destrutiva do ser humano para a irracionalidade. A diferença entre o seu romance épico A Guerra do Fim do Mundo, de 1981, que narra uma revolta no Brasil do século XIX e A Festa do Chibo, romance de 2000, sobre o assassinato do ditador dominicano Rafael Trujillo, é significativa. O primeiro é um texto histórico sério, enquanto o último se assemelha a um romance policial político, cheio de relatos das perversões sexuais do Trujillo.
Vargas Llosa é, sem dúvida, uma escolha controversa, uma vez que escreveu muito e algumas obras tiveram mais sucesso do que outras. Segundo Vargas Llosa “um romancista que não escrever sobre aquilo que o estimula e inspira profundamente não é autêntico e é, provavelmente, um mau romancista”. Em 2010, o seu mérito foi reconhecido.
BIBIOGRAFIA
FICÇÃO
Os Chefes (1959)
A Cidade e os Cachorros (Brasil) / A Cidade e os Cães (Portugal) (1963)
A Casa Verde (1966)
Os Filhotes (1967)
Conversa na Catedral (Brasil) / Conversas n’A Catedral (Portugal) (1969)
Pantaleão e as visitadoras (1973)
A Tia Júlia e o Escrevinhador (Brasil) / A Tia Júlia e o Escrevedor(Portugal) (1977)
A Guerra do Fim do Mundo (1981)
Historia de Mayta (1984)
Quem matou Palomino Molero? (1986)
O falador (1987)
Elogio da madrasta (1988)
Lituma nos Andes (1993)
Os cadernos de Dom Rigoberto (1997)
A Festa do Bode (Brasil) / A Festa do Chibo (Portugal) (2000)
O Paraíso na Outra Esquina (2003)
Travessuras da Menina Má (2006)
O Sonho do Celta (2010)
TEATRO
A menina de Tacna (1981)
Kathie e o hipopótamo (1983)
La Chunga (1986)
El loco de los balcones (1993)
Olhos bonitos, quadros feios (1996)
ENSAIO
García Márquez: historia de un deicidio (1971)
Historia secreta de una novela (1971)
La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)
Contra viento y marea. Volume I (1962-1982) (1983)
Contra viento y marea. Volume II (1972-1983) (1986)
La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)
Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)
Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)
Desafíos a la libertad (1994)
La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)
Cartas a un novelista (1997)
El lenguaje de la pasión (2001)
La tentación de lo imposible (2004)