segunda-feira, 21 de março de 2011

Primavera

Para além de ser o Dia Mundial da Poesia, hoje começa também a Primavera, deixemos, então, que Miguel Torga a anuncie em Poesia.

ANUNCIAÇÃO

Surdo murmúrio do rio,
Fresco alegórico  
Primavera
Pompeia
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.

Miguel Torga


... e António Vivaldi em música:


De: wintermood

Antonio Vivaldi - Quatro Estações
Chamber Orchestra of "Transylvania" State Philharmonic Cluj-Napoca ROMÉNIA
Maestro: Mircea Cristescu
Violino: Stefan Ruha

Hoje é Dia Mundial da Poesia




um excerto de TABACARIA
Álvaro de Campos






(...)

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(...)


Podem ler o poema completo aqui.

domingo, 13 de março de 2011

Bom dia do Pi - 3/14

O dia mundial do número Pi celebra-se todos os anos a 14 de Março, já que no mundo Anglo-saxónico se escreve: 3/14. 

O texto seguinte foi extraído da obra "Contacto", de Carl Sagan.

"No sétimo ano andavam a estudar o “pi”. Era uma letra grega que lembrava a arquitectura de Stonehenge, em Inglaterra: duas colunas verticais com uma trave em cima: π. Medindo a circunferência de um círculo e dividindo-a depois pelo diâmetro do círculo obtinha-se o valor de “pi”. Em casa, Ellie pegou na tampa de um boião de maionese, passou-lhe um cordel à volta e com uma régua mediu a circunferência do círculo. Fez o mesmo ao diâmetro e dividiu um pelo outro. Obteve 3,21. Parecia simples.
No dia seguinte o professor, Mr. Weisbrod, disse que π era cerca de 22/7, aproximadamente 3,1416. Mas, na realidade, se se queria ser exacto, era um decimal que se prolongava indefinidamente sem repetir o padrão dos números. Indefinidamente, pensou Ellie. Levantou a mão. O ano escolar começara havia pouco e ela ainda não fizera nenhumas perguntas naquela aula.
- Como pode alguém saber que os decimais se prolongam indefinidamente?
- Porque é assim – respondeu o professor, com alguma rispidez.
- Mas porquê? Como sabe? Como se podem contar decimais indefinidamente?
- Mr. Weisbrod – o professor estava a consultar a caderneta da turma – essa é uma pergunta estúpida. Está a desperdiçar o tempo da aula.
Nunca ninguém chamara estúpida a Ellie e ela deu consigo desfeita em lágrimas. Billy Hortsman, que ocupava o lugar ao seu lado, estendeu bondosamente a mão e colocou-a sobre a dela. O pai fora recentemente acusado de praticar adulterações nos hodómetros dos carros que vendia e, por isso, Billy estava sensível à humilhação pública. Ellie fugiu da aula a soluçar.
Depois das aulas foi de bicicleta à biblioteca do colégio próximo a fim de consultar livros de matemática. Tanto quanto conseguiu depreender do que leu, a sua pergunta não tivera nada de estúpida. Segundo a Bíblia, os antigos Hebreus tinham aparentemente pensado que π era exactamente igual a 3. Os Gregos e os Romanos, que sabiam montes de coisas a respeito de matemática, não tinham a mínima ideia de que os dígitos de π se prolongavam indefinidamente sem se repetir. Tratava-se de um facto que só fora descoberto havia cerca de 250 anos. Como queriam que ela soubesse, se não podia fazer perguntas?
Mas Mr. Weisbrod tivera razão acerca dos primeiros dois dígitos. Pi não era 3,21. Talvez a tampa do boião da maionese estivesse um bocadinho amachucada, não fosse um círculo perfeito. Ou talvez ela tivesse sido descuidada ao medir o cordel. No entanto, mesmo que tivesse sido mais cuidadosa, não podiam esperar que medisse um número infinito de dízimas.
Havia, porém, outra possibilidade. Podia calcular-se pi tão exactamente quanto se quisesse. Se uma pessoa soubesse uma coisa chamada cálculo, poderia experimentar fórmulas para π que lhe permitiam calculá-lo até tantos decimais quantos o tempo lhe permitisse. O livro enunciava fórmulas para pi dividido por 4. Algumas delas não conseguia pura e simplesmente compreendê-las. Mas havia outras que a fascinavam:
π/4, dizia o livro, era o mesmo que 1- 1/3+ 1/5 - 1/7 + …, com as fracções a continuar indefinidamente. Sem perda de tempo, tentou pôr a fórmula em prática, adicionando e subtraindo as fracções alternadamente. O resultado saltava de maior do que π/4 para menor do que π/4, mas ao fim de algum tempo podia ver-se que esta série de números seguia em linha recta para a resposta certa. Nunca se podia lá chegar exactamente, mas era possível alguém aproximar-se tanto quanto quisesse, desde que fosse muito paciente.
Pareceu-lhe um milagre que a forma de todos os círculos do mundo estivesse conexa com aquela série de fracções. Decidiu aprender cálculo.
Mas o livro dizia ainda mais alguma coisa: chamava-se um número “transcendente”. Não existia nenhuma equação com números ordinários capaz de dar π, a não ser que fosse infinitamente longa. Ela já aprendera sozinha um pouco de álgebra e compreendia o que isso significava. E π não era o único número transcendente. Efectivamente, havia uma infinidade de números transcendentes. Mais do que isso, havia infinitamente mais números transcendentes do que números ordinários, apesar de π ser o único de que ela jamais ouvira falar. Em mais do que um sentido, estava ligado à infinidade.
Tivera um vislumbre de algo grandioso. Escondida entre todos os números ordinários existia uma infinidade de números transcendentes de cuja presença nunca se suspeitaria a não ser que se penetrasse profundamente na matemática. De vez em quando, um deles, como o π, surgia inesperadamente na vida quotidiana. Mas na sua maioria – um número infinito deles, recordou a si mesma – estavam escondidos, metidos na sua própria vida, quase com certeza não vislumbrados pelo irritável Mr. Weisbrod."


 “Contacto”, de Carl Sagan, ed. Gradiva

Kate Bush - Pi

Se seguirem a ligação Viagem ao interior de Pi/O seu nome em Pi encontrarão informações muito interessantes sobre o número Pi.
Já agora, visitem a página do Atractor-Matemática Interactiva, da qual a "Viagem ao interior do Pi" é uma secção. Vale a pena!

 Sub-departamento de Matemática

sexta-feira, 4 de março de 2011

Palestra: REDES SOCIAIS - 10 de Março

Palestra:Os Morros de Nóqui - 10 de Março

PÁGINA EM BRANCO

O grupo constituído pelos alunos: Adriana Mendes, Carolina Pereira,Márcia Araújo, Maria João Marques e Rui Abreu, do 11CT4, participaram no concurso CURTAS DE CINEMA DOCUMENTAL JOVEM com o vídeo “Página em branco”.
Este concurso tem por objectivo distinguir os melhores microfilmes produzidos sobre Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. VOTA NO VÍDEO DOS TEUS COLEGAS! AJUDA-OS A GANHAR!!! RÁPIDO! A VOTAÇÃO TERMINA A 7 DE MARÇO.
http://videos.sapo.pt/Oef7WalReNVDABfILhLP

terça-feira, 1 de março de 2011

Dia Internacional da Língua Materna


Concurso de 
 ESCRITA CRIATIVA
Regulamento

Escritor do mês

MÁRIO VARGAS LLOSA

VIDA

Jorge Mário Pedro Vargas Llosa nasceu em Arequipa (Peru), em 1936. Nascido numa família da classe média, único filho de Ernesto Vargas Maldonado e Dora Llosa Ureta, os seus pais separaram-se após cinco meses de casamento. Vargas Llosa nasce, então, estando já os seus pais separados, o que faz com que conheça o seu pai aos dez anos de idade. A sua primeira infância é passada em Cochabamba, na Bolívia, onde estuda até ao 4º ano, no colégio La Salle. Em 1945, a sua família volta ao Peru e instala-se na cidade de Piura, onde frequenta o 5º ano no colégio Salesiano. Em 1946, muda-se para Lima, onde termina a instrução primária e inicia a formação secundária no Colégio La Salle. É nessa altura que conhece o seu pai. Os pais reconciliam-se e, durante a sua adolescência, a família continuará a viver ali.
Ao completar 14 anos, ingressa, por vontade paterna, no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla, como aluno interno, ali permanecendo dois anos. Essa experiência será o tema do seu primeiro livro - La ciudad y los perros (A cidade e os Cães), publicado no Brasil como Batismo de Fogo e, posteriormente, como A cidade e os cachorros.
Termina os estudos secundários no Colégio de San Miguel de Piura.
Em 1953, regressa a Lima. Ingressa na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, a mais antiga da América. Ali estuda Letras e Direito, contra a vontade de seu pai.
Aos 19 anos, casa-se com Júlia Urquidi, irmã da mulher de seu tio materno, e passa a ter vários empregos para sobreviver: é redactor, elabora fichas, resumo de livros e chega, até, a confirmar os nomes inscritos em túmulos, nos cemitérios.
Em 1958, recebe uma bolsa de estudos "Javier Prado" e vai para Espanha, onde obtém o doutoramento em Filosofia e Letras, na Universidade Complutense de Madrid. Seguidamente, vai para França, onde vive durante alguns anos. Em 1964, divorcia-se de Júlia e, em 1965, casa-se com a prima Patrícia Llosa, com quem tem três filhos: Álvaro, Gonzalo e Morgana.
Em 1980, começa a ter maior actividade política no seu país. Em 1983, a pedido do próprio presidente Fernando Belaunde Terry, preside à comissão que investiga a morte de oito jornalistas. Em 1987, inicia o movimento político liberal contra a estatização da Economia, o que ia de encontro ao presidente Alan García. Em 1990, concorre à presidência do país com a Frente Demócrata (Fredemo), partido de centro-direita, mas perde a eleição para Alberto Fujimori.
E retorna a Londres, onde reinicia as suas actividades literárias. Em 2006, na sua mais recente visita ao país, apoia a candidatura de Lourdes Flores, embora o vencedor das eleições tenha sido Alan García. As suas experiências como escritor e candidato presidencial estão expostas na autobiografia Peixe na Água, publicada em 1991.
É membro da Academia Peruana de Línguas, desde 1977, e da Real Academia Española, desde 1994. Tem vários doutoramentos Honoris Causa atribuídos por Universidades espalhadas um pouco por todo o mundo: Europa, América e Ásia.
Foi condecorado pelo governo francês com a Medalha de Honra, em 1985.
Ao longo da sua carreira, Vargas Llosa recebeu vários prémios e condecorações. Entre eles, destacam-se: o Prémio Nacional de Novela do Peru, em 1967, pelo seu romance A Casa Verde; o Prémio Príncipe das Astúrias de Letras, em Espanha (1986); o prémio Cervantes, em 1994.
Finalmente, recebe a distinção máxima a que pode aspirar um escritor, com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em, 2010.

OBRA
O escritor peruano, Mario Vargas Llosa, foi laureado com o Nobel de Literatura, em parte, por “oferecer uma cartografia de estruturas de poder e pelas suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual”, segundo o Comité responsável pela atribuição do prémio.
Vargas Llosa, em tempos, afirmou que “é o dever moral de um escritor latino-americano estar envolvido em actividades cívicas”. Palavras que ele tem levado a sério.
Em seis décadas de vida pública, Vargas Llosa foi candidato à Presidência peruana, colunista político, Director da P.E.N. Internacional, jornalista interventivo e até defensor neo-liberal do mercado livre. Mas ele é, sobretudo, um escritor e ensaísta prolífico, com uma obra excepcional.
A sua obra critica a hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje no Peru e na América Latina.
Nos últimos quarenta anos, Vargas Llosa tem tecido mitos alternativos que têm sido impostos aos latino-americanos, por quem os governa. O seu principal tema é a luta pela liberdade individual na realidade opressiva do Peru. A sua primeira grande obra Conversa na Catedral, desenrola-se nos anos cinquenta, durante a ditadura do general peruano Manuel Odria e é um retrato feroz do modo como o regime militar distorce, mas não consegue obscurecer completamente a realidade.
Perguntas directas sobre o poder surgem em todos os seus livros. Mas o que torna Llosa significativo, não é este aspecto ou as suas constantes mudanças em ideologia política (já foi apoiante de Castro, mais tarde, comunista desiludido e até candidato do centro-esquerda), mas antes o modo como, na sua busca incessante, tem deambulado pela história e pelos géneros literários. Muitos dos seus escritos são autobiográficos e caracterizam-se por uma sofisticada técnica narrativa.
Os seus primeiros romances, com temática mais séria, deram lugar a sátiras e paródias e, mais tarde, a obras mais complexas, como Tia Júlia e o Escrevedor, nas quais o desejo pode provocar a confusão cómica na vida das personagens.
Na obra de Vargas Llosa, estes dois mundos – política e sexo – misturam-se, retratando a tendência destrutiva do ser humano para a irracionalidade. A diferença entre o seu romance épico A Guerra do Fim do Mundo, de 1981, que narra uma revolta no Brasil do século XIX e A Festa do Chibo, romance de 2000, sobre o assassinato do ditador dominicano Rafael Trujillo, é significativa. O primeiro é um texto histórico sério, enquanto o último se assemelha a um romance policial político, cheio de relatos das perversões sexuais do Trujillo.
Vargas Llosa é, sem dúvida, uma escolha controversa, uma vez que escreveu muito e algumas obras tiveram mais sucesso do que outras. Segundo Vargas Llosa “um romancista que não escrever sobre aquilo que o estimula e inspira profundamente não é autêntico e é, provavelmente, um mau romancista”. Em 2010, o seu mérito foi reconhecido.




BIBIOGRAFIA

FICÇÃO

Os Chefes (1959)
A Cidade e os Cachorros (Brasil) / A Cidade e os Cães (Portugal) (1963)
A Casa Verde (1966)
Os Filhotes (1967)
Conversa na Catedral (Brasil) / Conversas n’A Catedral (Portugal) (1969)
Pantaleão e as visitadoras (1973)
A Tia Júlia e o Escrevinhador (Brasil) / A Tia Júlia e o Escrevedor(Portugal) (1977)
A Guerra do Fim do Mundo (1981)
Historia de Mayta (1984)
Quem matou Palomino Molero? (1986)
O falador (1987)
Elogio da madrasta (1988)
Lituma nos Andes (1993)
Os cadernos de Dom Rigoberto (1997)
A Festa do Bode (Brasil) / A Festa do Chibo (Portugal) (2000)
O Paraíso na Outra Esquina (2003)
Travessuras da Menina Má (2006)
O Sonho do Celta (2010)

TEATRO

A menina de Tacna (1981)
Kathie e o hipopótamo (1983)
La Chunga (1986)
El loco de los balcones (1993)
Olhos bonitos, quadros feios (1996)

ENSAIO

García Márquez: historia de un deicidio (1971)
Historia secreta de una novela (1971)
La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)
Contra viento y marea. Volume I (1962-1982) (1983)
Contra viento y marea. Volume II (1972-1983) (1986)
La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)
Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)
Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)
Desafíos a la libertad (1994)
La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)
Cartas a un novelista (1997)
El lenguaje de la pasión (2001)
La tentación de lo imposible (2004)