terça-feira, 17 de julho de 2012

Martinho Torres: o escritor que criou o conceito de livro-objeto


      Fui recusado por muitas editoras, mas não desanimei. Agora, vejo o meu sonho realizado.”, referiu o escritor de pseudónimo Richard Towers, na visita à nossa escola do dia 23 de abril. Mas, comecemos pelo início. A convite da equipa da biblioteca, o autor Martinho Torres esteve à conversa com as turmas 12ºCT2 e 10ºTSE, ao longo de uma hora e meia, repleta tanto de literatura como de música. Acompanhado da sua guitarra, o escritor veio divulgar o seu projeto inovador de livros-objeto, que conta já com um ano de vida, tal como tem vindo a fazer por escolas de norte a sul do país.
Com uma figura simples, mas simpática, Martinho começou por se apresentar, dando-nos a conhecer um pouco do seu percurso de vida. Contou-nos que foi professor de Português e Francês, tendo lecionado durante alguns anos, porém, no final de contas, a sua vocação de artista falou mais alto. Dedicou grande parte da sua vida à música, mas a escrita é a sua atual ocupação, tendo já publicado três livros. O convidado revelou-nos que, no início da sua carreira como escritor, pensou em criar um livro-CD, ou seja, editar um disco com faixas alusivas a cada capítulo de um livro. No entanto, apesar de ter apresentado esta ideia a várias editoras, todas consideraram que seria comercialmente inviável, pelo que a rejeitaram. Ainda que este projeto tenha ficado por cumprir, o escritor não baixou os braços e, após algum tempo, criou a sua própria editora, a Neoma Produções, que, por agora, serve de base ao seu projeto de livros-objeto. Mas, afinal, o que são os livros-objeto?
Os livros-objeto não são mais do que um livro incorporado num objeto do quotidiano, como um relógio, um espelho ou, até mesmo, um tabuleiro de xadrez. A originalidade deste tipo de livro ultrapassa o simples ato de ler, proporcionando ao leitor a oportunidade de o aplicar noutras situações do dia a dia, podendo pendurar o seu livro-relógio na parede da sala ou jogar uma partida de xadrez com os seus amigos no livro-tabuleiro. Estando nós a atravessar uma altura de crise, o escritor viu nesta iniciativa uma forma de cativar cada vez mais pessoas a comprar livros e, consequentemente, de as motivar para a leitura, mostrando que é possível combinar num só objeto dois aspetos: prazer e utilidade. O mais interessante de tudo isto é que a história de cada livro se baseia no respetivo objeto que o acompanha e, de modo a comprová-lo, Richard Towers apresentou-nos alguns excertos das mesmas, pedindo a colaboração de alguns alunos que assistiam à apresentação para os lerem em voz alta enquanto os acompanhava tocando diferentes melodias e ritmos com a sua guitarra.
Ao longo da conversa, a criatividade deste artista foi-se tornando cada vez mais evidente, tendo-nos fascinado com as suas histórias e, acima de tudo, com a sua força de vontade, que fez com que não desistisse de realizar os seus sonhos, que agora vê concretizarem-se. A mensagem que este escritor nos transmitiu foi, sem dúvida, inspiradora: acreditar que tudo é possível e, por muitas que possam ser as desilusões e os obstáculos que encontremos, existirão sempre outros caminhos que nos permitirão chegar ao topo, alcançar o nosso fim. Foi exatamente o que ele fez. Percebendo a dificuldade que estava a ter em levar a sua ideia avante em Portugal, procurou fazê-lo no estrangeiro, em países como a Alemanha, que o receberam de braços abertos e o ajudaram a construir o sucesso que hoje tem. Assim, levando o nome do nosso país além-fronteiras e defendendo que existem muito boas ideias por terras lusas, uma dúvida pairava, contudo, na mente dos alunos. Porque teria Martinho Torres adoptado um pseudónimo em inglês? Não tendo conseguido apoios para o seu projeto em Portugal, o escritor acabou por confessar que, ao exibi-lo no estrangeiro, optou por escolher um pseudónimo inglês, uma vez que sentiu algum preconceito contra os portugueses, o que diminuiria a probabilidade de a sua ideia ser valorizada e alvo de investimento. A verdade é que, no final das contas, os seus livros-objeto, únicos no mundo, foram muito bem recebidos noutros mercados, estando já Martinho a negociar a sua comercialização, por exemplo, no Brasil e nos Estados Unidos, e a preparar a publicação de mais.
No final da sessão, os alunos demonstraram-se agradados com o que tinham assistido e surpreendidos com a originalidade e capacidade empreendedora de Martinho Torres. As turmas tiveram, ainda, a possibilidade de adquirir um livro autografado pelo próprio Richard Towers. Por fim, o que é facto é que nunca tínhamos sequer imaginado ver o nosso reflexo num livro cuja capa tem um espelho integrado ou estar a ler uma obra que possui um relógio funcional. Martinho soube, por isso, olhar para onde nunca ninguém tinha olhado, criar algo que nunca ninguém antes criara. Foi esse ver mais além e essa capacidade de persistência que o levaram a concretizar o seu sonho, um sonho que partilhou agradavelmente connosco na biblioteca da nossa escola.


Ana Catarina Ferreira, Ana Cláudia Novais, Joana Luís e Sandra Mendes
12ºCT2
maio de 2012



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